Capítulos (1 de 1) 15 May, 2023

O Ladrão de Pudins

Embalada pela canção de ninar e o balanço da mãe, a pequenina adormeceu. Após um gracioso beijo de boa noite, a bebê foi colocada no berço.

Na sala, o comportado cachorrinho da família, aproveitava calmante a ração posta em seu pote.

Ele era branco e peludo, e embora dois pompons coloridos enfeitassem sua cabeça, os pelos pretos no rosto lhe caiam como um grande bigode, trazendo um ar de sabedoria ao canino.

Ainda degustando sua refeição, ele viu quando a mãe saiu do quarto. Fazendo uma rápida análise, o quatro-patas notou que a humana estava cansada e logo iria para seu momento de repouso.

Esgueirou-se de mansinho pelo tapete de sala e disparou até o cômodo, adentrando no quarto pela porta entre aberta.

O pingente metálico da coleira cintilou, revelando um holograma. Do feixe de luz apareceu urso amarelo de pelúcia, o qual vestia um terno preto e um broche em formato de sanduíche pendia na gravata vermelha.

— Agente B e Agente K, temos um alerta vermelho! Repito, temos um alerta vermelho!

A garotinha de cabelos pretos logo se levantou, descendo do berço com rapidez. O cachorro se balançou, livrando-se dos pompons. Enfiou a cabeça debaixo do berço e de lá puxou com a boca seu chapéu de agiota. A bebê vestiu um moletom vermelho e puxou o capuz. Na cintura, pouco acima da fralda, havia um cinto de utilidades o qual tinha um coldre. Nele estava depositada sua pistola d'gua. Por fim, pôs os óculos cor de rosa, pronta para mais uma missão. O urso prosseguiu:

— Agentes, temos um caso de segurança nacional. — Mostrou

numa prancheta o desenho de pudim. — Nossa inteligência ouviu que há pudins sumindo misteriosamente das geladeiras!

Uma câmera captou imagens do suspeito dos crimes... — A figura de um gato cinza foi projetada. — Pata de Veludo é um criminoso de periculosidade nível Fralda. A missão de vocês é impedi-lo de roubar o próximo pudim! Agentes, a Sociedade Secreta do Sanduíche conta com vocês.

A dupla correu para dentro do guarda-roupa, onde subitamente um compartimento se abriu, revelando uma passagem secreta.

E então pularam ao mesmo tempo.

Com o vento agitando pelos e cabelos, eles desceram por um escorregador amarelo, rodopiando até pousarem no bote de borracha com um volante na frente e duas grandes turbinas atrás. A agente B deu a partida, assumindo a direção. O companheiro canino latiu decido, ao passo que a embarcação prontamente cruzava as águas com velocidade.

Em cima do telhado e coberto pelo escuro, o gatuno observava o alvo com uma luneta. A cauda cinzenta e felpuda balançava-se de um lado para o outro enquanto ele, o felino mais temido da cidade, montava ali seu plano de ação. Um dos humanos havia deixado uma janela aberta. O gato sorriu, vendo a brecha descuidada virar uma oportunidade.

— Ficou ainda mais fácil! Aquele pudim vai ser meu, ou não me chamo Pata de Veludo!

Um tapa olho cobria a ocular direita, e seu nariz aguçado já captava o saboroso aroma daquele pudim de leite. Já devia ter saído do forno e estava indo para a geladeira. Agitando os bigodes, ele levantou uma pata a fim de sentir a direção do vento. Baixou a luneta e se alongou. Em seguida vestiu um macacão azul com asas e colocou seu cinto.

— E agora... —esfregou a palma das patas e pôs as garras de fora. — Minha entrada triunfal!

"Ora, se esquilos podem voar, eu também posso!" — Pensou consigo, logo antes de correr pelas telhas e mergulhar no ar.

Abriu as patas e planou graciosamente, atravessando a rua e o muro alto da casa no outro lado.

Sobrevoou o quintal, passando pelo jambeiro e por cima da casinha do enorme Pitbull que dormia como uma pedra. Por fim fez um pouso perfeito na janela que dava de frente para a sala de estar. A TV ligada num volume baixinho exibia um jogo de futebol, mas o único expectador na sala pegou no sono, não muito interessado na partida. Pata de Veludo levantou as orelhas, descendo de mansinho sem fazer nenhum barulho. O homem jazia no sofá, roncando e babando, com os dedos sujos de salgadinho. O gato seguiu furtivo pelo corredor que terminava na cozinha. No entanto, parou quando ouviu uma movimentação. Uma mulher saía do banheiro.

O ladrão de quatro patas parou diante de um quarto com a

porta aberta. O adolescente que esqueceu da janela usava de fones e totalmente concentrado no seu videogame. O felino disparou para debaixo da cama, antes que a humana entrasse no cômodo. Dali ele via os pés se aproximando, enquanto gritos e reclamações vinham até o garoto. Ignorada, a mãe bufou e andou até a sala. Sentou-se na poltrona e mudou de canal para uma novela. Com todos distraídos, Pata de Veludo rumou para a cozinha, onde a geladeira guardava o desejado pudim.

No entanto, um feixe de luz vermelha chamou sua atenção.

Por instinto o gato saltou até a parede, tentando capturar o ponto luminoso que não parava de se mexer. E então ouviu um rosnado. Pela porta da área de serviço, dois pequenos vultos passaram.

— Boooo!

Pata de Veludo se assustou, arrepiando os pelos. A Agente B segurava o laser enquanto o Agente K latia no escuro.

A garotinha pegou a pistola d'água e puxou o gatilho, molhando o bichano que saiu em disparada.

— Socorro! Têm fantasmas aqui! — Desesperado, o ladrão de pudins acabou tropeçando na sala, acordando a mulher, que deu um grito. O marido acordou com o barulho, mas o pote de salgadinhos na sua mão virou contra o próprio rosto. Veio um tempestuoso espirro que pôde ser ouvido até no meio da rua.

Com o pelo sujo de salgadinho, o gato cinza pulou até a janela. Saiu meio desajeitado pelas grades, e depois de embolar no solo do quintal, mal teve tempo de respirar quando percebeu que o grande Pitbull havia acordado. Pata de Veludo quase teve sua cauda abocanhada pelo cachorro, mas conseguiu ser rápido para subir no pé de jambo enquanto o canino latia ferozmente embaixo da árvore. Ofegante, o felino viu quando uma asa delta cruzou o céu estrelado. Uma garotinha de casaco rosa e um cachorrinho branco tinham levantado vôo acima do telhado da casa.

— Então foram eles... os intrometidos da SSS! — O vilão

zangou-se, miando em revolta ao erguer as patas.

— Isso não acabou! Vai ter volta! Ou meu nome não é Pata de Veludo!

Mais tarde, a mãe da menina acordou no meio da noite. Tomou um copo de água e foi até o quarto da filha. Abriu a porta devagar e sorriu, vendo a criança dormir tranquilamente enquanto embaixo do berço o fiel amiguinho de quatro patas também tirava um sono dos bons. E assim, a noite foi salva graças aos agentes ultra secretos da Sociedade Secreta do Sanduíche. 

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